Campo x Teoria

A medicina, a farmácia e o capitalismo:

 


Nas últimas décadas a nossa sociedade presenciou inúmeros avanços no campo da medicina e nos tratamento de doenças. Com o desenvolvimento de novas tecnologias foram criadas e aprimoradas novas técnicas de diagnóstico e tratamento, assim como ampliada a capacidade de estudo e pesquisa de doenças dos mais diversos tipos. Com esses avanços vêm sendo possível também a criação de novas drogas, cada vez mais específicas, eficazes e complexas, capazes de curar ou amenizar o efeito de doenças ditas até então como incuráveis.

Vinculada a estes avanços encontra-se outra questão: os interesses comerciais e econômicos da gigantesca industria farmacêutica, que resulta na busca e registro da propriedade intelectual das novas descobertas. É inegável que o mercado de medicamentos movimenta uma grande parcela da economia mundial. Em consequência disto as grandes indústrias investem grandes quantias no financiamento de pesquisas, pois a descoberta ou criação e possível monopólio de um novo medicamento pode gerar e fomentar um novo mercado consumidor que trará grandes lucros à estas empresas.

No mundo em que vivemos este vínculo entre desenvolvimento científico e tecnológico e os interesses econômicos chega a ser natural, como aborda a autora Regina Morel em seu texto “Ciência e Estado, a política científica no Brasil“. O lucro é um grande incentivador à inovação e desenvolvimento, porém diante desta lógica capitalista é possível questionar: Qual é o limite entre deter conhecimento e restringir seu acesso? Até onde o valor econômico pode se sobrepor aos interesses e bem estar da sociedade? É possível afirmar que a saúde possui um preço? Quanto seria? Este texto prosseguirá norteado por estes questionamentos e por fatos que venham a colocá-los em questão.

Propriedade intelectual e texto de Walter A. Bazzo


Sendo a abordagem principal do trabalho dentro da temática da propriedade intelectual o fator “até onde o conhecimento deve pertencer a uma pessoa, ou empresa”, é primordial que se reflita acerca do beneficio econômico em detrimento do beneficio à sociedade.

No trecho em que W. A. Bazzo trata da “Introdução aos estudos CTS” fala-se de como ciência, tecnologia e a sociedade estão relacionadas na produção do conhecimento cientifico, abordando a ciência como não autônoma, mas como produto social em que cultura e valores envolvidos na sociedade influenciam os métodos e a destinação da ciência.

É possível identificar através do texto em questão aspectos que também estão relacionados com a abordagem da propriedade intelectual, como quando se trata do mito da autonomia, porque a ciência, apesar de apresentada como neutra, sempre está relacionada com a sociedade, sendo influenciada, por exemplo, por valores e pressões econômicas, a exemplo do caso tratado no trabalho sobre a polêmica das patentes da Monsanto, em que predominam os interesses da empresa envolvida e os valores que estão em questão na concessão ou não da patente solicitada.

Outros fatores estão envolvidos, como no caso de a ciência ser feita nos moldes atuais por cientistas muito especializados e não ser tratada como saber democrático, a exemplo de grandes empresas detentoras das patentes e de muito conhecimento cientifico hoje produzidos, como a Myriad e a Monsanto, anteriormente abordadas. Fala-se inclusive do mito do beneficio infinito, em que mais ciência e tecnologia conduziriam inexoravelmente a mais riqueza e bem estar, fator que deve ser posto em reflexão porque segundo documentário abordado no trabalho, não existem estudos que possam afirmar com certeza quais os possíveis efeitos de alguns alimentos geneticamente modificados incluídos hoje no mercado, como as sementes desenvolvidas pela Monsanto.


De maneira geral, o então “enfoque CTS” é apresentado como uma reação contra o modelo, em que é gerada uma reflexão ética e em que a ciência e a tecnologia são produto social influenciado por valores, pressões econômicas, interesses profissionais e convicções religiosas. Podemos facilmente identificar que os moldes em que a ciência é feita hoje apresenta os problemas abordados no texto e particularmente, identifica-se no documentário abordado, uma tentativa de reação contra o modelo citado, em que busca-se uma reflexão ética acerca do que está ali envolvido.